Claricianas #9
Esta é a primeira news de 2023… confesso que tenho relegado a escrita, sempre priorizando outras vivências. Preciso ressignificá-la, porque durante a pandemia eu fiz dela um hábito, mas agora que a vida urge, sair me chama, o ato solitário da escrita tem sido barulhento.
Parece que o mês de janeiro durou 79 dias. Que mês longo! Ainda estou recalculando rota, é verdade, essas férias têm sido de estudo e leituras, mesmo que as aulas do mestrado só iniciem em março, estou tentando me aprofundar mais no meu tema de pesquisa. Bom, mas o mestrado é tema para uma próxima newsletter.
Você já magoou alguém com o que escreveu?
2023 começou com a posse do presidente Lula, um lindo e ensolarado dia em Brasília, de muita felicidade ao lado de amigas, com direito a choro de alegria e pânico com um ataque que não ocorreu. Mas os acontecimentos do dia 08/01 me tiraram do eixo. Com a clara tentativa de golpe, eu me tornei uma pessoa raivosa como dificilmente sou. Quem me conhece quase sempre experimenta minha doçura, mas tenho um lado amargo que me assusta às vezes e depois do golpe de 2016, eleições de 2018, 4 anos de governo Bolsonaro e a tentativa de golpe, cheguei ao meu limite e escrevi um texto raivoso, babando de ódio aos fascistas. Nele eu pedia pra pararem de me “seguir” e de falar comigo, ameacei dar as costas para quem ainda defendia o Bolsonaro. E, sim, esse ainda é meu desejo e ele foi até atendido por algumas pessoas, mais especificamente 16 pessoas pararam de me seguir no mesmo momento do post, mas refleti sobre esse rompante depois de conversar com uma amiga que não gostou dele, disse que era um texto impulsivo e que talvez não fosse o momento para declarar meu ódio aos fascistas, que deixasse isso para eles. Ainda não cheguei a uma conclusão, sinceramente. Sei que ontem chorei com um vídeo em que a youtuber, fotógrafa, cineasta e fazendeira sueca Jonna Jinton fazia a seguinte pergunta: O que você diria a 4 milhões de pessoas se elas pudessem te ouvir? E ela recebeu e retransmitiu lindas mensagens de gentileza e amor. Ouvir essas mensagens me fez repensar sobre o que tenho escrito e influenciado, não para 4 milhões de pessoas, mas para 4 mil, para 400, 40, 4 pessoas que seja. Senti vergonha, eu acho, mas nem sempre compartilhar só coisas boas é a solução. Nem sei se declarar ódio a fascista também é… eu não sei de nada, se postar qualquer coisa faz alguma diferença. Tantas vezes não vejo sentido algum em estar nas redes, embora acredite profundamente no poder da escrita, como um texto pode afetar as pessoas e as pessoas afetarem o mundo. É isso, talvez tudo se resuma a afeto. Realmente um texto raivoso não serve a nenhum propósito, é só desabafo. O que você acha disso?
Jonna Jinton e as mensagens para 4 milhões de pessoas: A message that will change your life (com legenda em vários idiomas)
Notícias Claricianas
Entrevista inédita de Clarice: Entrevista em casa 1976
Vou continuar com o meu Clube de Leitura Clarice Lispector - leremos todos os romances em ordem cronológica a partir de março. Quem quiser participar, é só me avisar.
O professor Ramon Diego, doutorando em Literatura, está com inscrições abertas para um minicurso sobre A hora da estrela.
Uma obsessão chamada Michelle Zauner
A primeira vez que ouvi falar de Aos prantos no mercado foi pela indicação da Bárbara Bom Angelo. Sempre gostei muito de livros que tratam da relação mãe e filha e sobre a morte da mãe (Uma duas - Eliane Brum, A filha perdida e Um amor incômodo - Elena Ferrante, A mulher dos pés descalços - Scholastique Mukasonga são alguns que me vêm à memória). E lá em Paraty, durante a Flip, já comprei e coloquei como meta ler o mais rápido possível esse que é um livro de memórias afetivas envolvendo a relação de Michelle com a mãe, sempre entremeada à culinária coreana, o luto após a partida desta, seu ponto de contato com a cultura oriental, sua origem, a multirracialidade nos EUA e como a música é parte importante de quem ela é. Emocionante! E já começa assim: “Desde que minha mãe morreu, eu choro no mercado H Mart”. É um livro cru, doloroso, mas ao mesmo tempo nos conforta tanto com seus sabores e aromas! Um best seller que vale a pena ser lido.
Curiosidades:
Michelle Zauner é a vocalista e guitarrista da banda indie Japanese Breakfast e desde a leitura não sai do meu player.
Ela escreveu um álbum todinho sobre a mãe: Psychopomp (2016).
Descobri recentemente uma participação dela em um reality da HBO Max e aproveito para indicar para vocês.
O nome do reality é “Take out with Lisa Ling” - Michelle aparece no sexto episódio da primeira temporada.
Indico muito a leitura:
Livro: Aos prantos no mercado
Autora: Michelle Zauner
Tradução: Ana Ban
Editora: Fósforo
Compre aqui.
Que esta cartinha te encontre com saúde. Um abraço! Pri